A música e a vontade de ajudar o próximo sempre acompanharam a jovem que foi para a capital estudar Medicina.
Os acordes de sanfona que percorrem os corredores de um hospital público no bairro de Águas Claras, em Salvador, chamam atenção de quem passa pela unidade.
Em um lugar onde a seriedade reina, a leveza da médica Adriane Barreto Cunha, 26, leva alegria para os pacientes internados em estado grave.
Aos 15 anos de idade, quando ganhou sua primeira sanfona, na cidade de Seabra, na Chapada Diamantina, Adriane não imaginaria que carregaria os 9 quilos do instrumento em um lugar tão improvável.
A música e a vontade de ajudar o próximo sempre acompanharam a jovem que foi para a capital estudar Medicina.
Com o passar dos anos, ela descobriu que juntar a as duas paixões poderia humanizar o tratamento de quem mais precisa.
A ideia de tocar sanfona para pacientes internados surgiu quando colegas de profissão descobriram que Adriane faz questão de dar continuidade a tradição do forró, que foi herdada de berço.
O clima de tensão da UTI do hospital Eládio Lasserre se transforma quando a médica aparece com a sanfona e tocando os acordes de canções de Dorgival Dantas.
Por alguns minutos, é como se a batalha pela vida fosse deixada de lado para que os olhos e os ouvidos se atenham apenas à trilha sonora, além da distração, a ação tem benefícios comprovados pela ciência.
“Existem estudos que comprovam que neurotransmissores são liberados nesses momentos e o paciente se sente mais feliz. Há um retorno da sensação de autonomia. Trazer a música faz com que eles se lembrem da vida e voltem a se conectar com suas origens”, explica Adriane Barreto.
No perfil do Instagram (@draadrianebarreto), a médica produz conteúdos informativos e ainda mostra seu lado de forrozeira.
A ação aconteceu pela segunda vez no hospital na quarta-feira (19) e faz parte de um projeto do hospital, que consiste em humanizar os tratamentos.
“Nós nos preocupamos com a recuperação física dos pacientes internados, mas muitas vezes acabamos esquecendo da importância dos outros aspectos. A humanização, dentro do contexto hospitalar, mostra que o paciente é um sujeito integral e que precisa trabalhar o lado social e subjetivo”, pontua a psicóloga Ester Maria Dias, presidente da Comissão de Humanização do hospital Eládio Lasserre.
Além da ação da médica sanfoneira na UTI geral, os membros da comissão aproveitam as datas comemorativas para levar alegria aos pacientes.
Na Páscoa, por exemplo, foi organizada uma caça aos ovos com as crianças internadas. “Essas ações alegram não só a UTI, mas todo o hospital. Os benefícios são para os internados e para os colaboradores também”, afirma a gerente de enfermagem Katia Miranda.
“A UTI é um ambiente em que tomamos tantas medidas invasivas e não há nada tão invasivo como restaurar a identidade. Queremos que essas pessoas se lembrem de momentos da vida delas em casa, com a família. Conseguimos resgatar essas lembranças ainda mais estando próximo do São João”, diz Adriane Barreto, a médica sanfoneira.
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Fonte: Correio 24 Horas / Perla Ribeiro