Bahia ganha trilhas turísticas para observação de cogumelos na Chapada Diamantina e sul do estado

O micoturismo promove uma apreciação consciente e sustentável dos cogumelos, sem prejudicar as belezas naturais dos ecossistemas.

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Além das paisagens naturais que despertam a atenção de visitantes de todas as partes do mundo, o Parque Nacional da Chapada Diamantina e o Parque Estadual da Serra do Conduru (no Sul da Bahia) são destinos para quem deseja praticar turismo ecológico e conhecer mais sobre a biodiversidade local. Com patrocínio da Fundação Grupo Boticário, um grupo de especialistas em fungos lançou no dia 22 de abril, um guia de quatro micotrilhas para observação de cogumelos nos dois locais. 

“Mico” é um prefixo usado para indicar algo relacionado a fungos e cogumelos. O projeto Micotrilha da Bahia propõe uma nova modalidade de turismo de natureza no estado. Nele, os micoturistas poderão participar de atividades como a busca, a identificação e a fotografia de cogumelos, além de aprender sobre o papel ecológico desses organismos. 

O micoturismo promove uma apreciação consciente e sustentável dos cogumelos, sem prejudicar as belezas naturais dos ecossistemas. Justamente com o objetivo de aliar o turismo ecológico e conservação da biodiversidade fúngica, o projeto Micotrilhas da Bahia teve início em 2022, e a partir dele foi realizada a coleta, organização, catalogação e registro fotográfico de 183 macrofungos encontrados na Serra do Conduru e 83 macrofungos encontrados na Chapada Diamantina, totalizando 266 nos dois parques baianos. 

As trilhas que permitem a observação dos cogumelos estão em áreas já conhecidas por turistas e moradores das regiões: duas delas estão no Vale do Capão, município de Palmeiras, na área do Parque Nacional da Chapada Diamantina, e duas no PESC (Parque Estadual da Serra do Conduru), no distrito de Serra Grande, município de Uruçuca.

“Os resultados deste projeto enriquecem a compreensão sobre a biodiversidade de cogumelos da Bahia, e fornecem subsídios para a conservação e fortalecimento dos Parques Nacional da Chapada Diamantina e Estadual da Serra do Conduru. Através dos roteiros micológicos guiados, tanto turistas, entusiastas ou pesquisadores têm a oportunidade de conhecer os cogumelos presentes na Bahia e compreender a importância da Funga (um termo proposto em 2018 para o reino dos fungos). Entendemos que a observação de cogumelos pode ser um atrativo extra com potencial para expansão de conhecimentos importantes para a humanidade”, destaca Alexandre Lenz, pesquisador e coordenador técnico do projeto.

Os fungos desempenham um papel fundamental na regulação do clima e na mitigação das mudanças climáticas, seja através do sequestro de carbono, da reciclagem de nutrientes, da produção de biocombustíveis, da biorremediação ou da conservação de ecossistemas. “Incorporar estratégias que promovam a saúde e a diversidade dos fungos nos ecossistemas é essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas”, afirma a também pesquisadora e coordenadora da iniciativa, Ana Paula Uetanabaro.

O Micotrilhas da Bahia é patrocinado pela Fundação Grupo Boticário é realizado pela UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz), através do LABMA (Laboratório de Microbiologia Aplicada da Agroindústria), UNEB (Universidade do Estado da Bahia), através do G2BC (Grupo de Pesquisa em Bioinformática e Biologia Computacional), coordenado pelos pesquisadores Ana Paula Uetanabaro e Alexandre Lenz, e gerido pela empresa Tistu Ambiental.

Mais informações podem ser obtidas no perfil do Instagram @micotrilhas.bahia, no Inaturalist ou no Guia disponibilizado pelo projeto, que pode ser baixado em www.shorturl.at/aLNTU.

Parque Nacional da Chapada Diamantina

A Micotrilha Ganoderma é nomeada em homenagem a um exemplar chamado Ganoderma lobatum, cogumelo orelha de pau que possui mais de 50 cm de comprimento. Ela está localizada na Pousada do Capão, e possui 2,2 km com uma grande diversidade de cogumelos coloridos, incluindo espécies comestíveis como o ostra rosa (Pleurotus djamor), o frango da floresta (Laetiporus sp.) e o Irpex rosettiformis. 

Com vistas incríveis para a Cachoeira do Batista (em períodos chuvosos) e para o Morro Branco (que fica ainda mais especial no por do sol), a micotrilha Ganoderma é acessível para todos os visitantes. Os valores são de R$ 160 para até quatro pessoas ou R$ 40 (cada um) para grupos a partir de cinco pessoas. 

Já a Micotrilha Mycena — em homenagem ao Mycena margarita, espécie que é bioluminescente — fica na Cachoeira Purificação e se encontra ao pé das montanhas, entre o Morro Branco e a Serra do Candombá, no final do Vale do Capão e começo do Vale do Pati. É uma trilha de 4,6 km com classificação média, de esforço significativo – já que conta com travessia de rio, rochas soltas, raízes expostas e subidas íngremes. A declividade varia bastante e muitas vezes passa por encostas que podem ser inacessíveis em épocas de chuva. 

Muitos cogumelos com cores chamativas são encontrados na micotrilha Mycena, incluindo tons de roxo, lilás e amarelo. O ponto alto é a própria Cachoeira da Purificação, onde se recomenda uma parada para banho, alimentação e hidratação. No retorno, há também a recomendação de parada para banho na Cachoeira Angélica, escondida em um cânion. Os valores são de R$ 260 para até quatro pessoas ou R$ 65 (cada um) para grupos de mais de seis pessoas. 

Os trajetos na Chapada Diamantina contam com o apoio dos condutores da Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão para facilitar o percurso e auxiliar os visitantes diante de quaisquer dificuldades. O agendamento pode ser feito no telefone (75) 3344-1087 ou no e-mail contato@acvvc.org.

Parque Estadual da Serra do Conduru

As micotrilhas do Parque Estadual da Serra do Conduru tem sua sede e áreas de visitação localizadas a 13 km do centro de Serra Grande, distrito de Uruçuca, no sul da Bahia, entre os municípios de Itacaré e Ilhéus, e requerem o acompanhamento de um guia da Associação de Condutores e Guias de Serra Grande. O agendamento pode ser feito por meio do telefone (73) 99981-1560. Nas duas opções, grupo de até quatro pessoas custa R$ 240. Cinco pessoas ou mais sai por R$ 70 (cada um).

A Micotrilha Cordyceps é uma trilha circular, pouco severa, de 1,1 km localizada próximo à sede do parque, e requer atenção às raízes das árvores expostas e a alguns pontos de bifurcação na mata ainda não sinalizados. Apresenta trechos com leve aclive e declive e o esforço é moderado, tendo em vista a duração estimada de 3 horas para a observação dos cogumelos. Há grandes chances de encontrar gêneros de cogumelos diversos, inclusive cogumelos bioluminescentes, em uma caminhada noturna.

Esta trilha foi nomeada com o nome popular referente ao gênero Ophiocordyceps, fungo que parasita diversos grupos de insetos, tornando-os “zumbis” e, ao final do seu ciclo, um macrofungo cresce a partir da cabeça deles. Insetos, como grilos, formigas e besouros infectados por fungos desse gênero, podem ser encontrados durante o passeio. 

Fungos desse gênero ficaram famosos recentemente na Série “The Last of Us” da HBO. A micotrilha Cordyceps apresenta uma rica biodiversidade de flora e funga, destacando também as inúmeras espécies do gênero Marasmius, que deixam as folhas da serrapilheira coloridas.

A Micotrilha Amanita recebeu o nome do gênero de uma espécie de cogumelo chamada Amanita dulciodora que, em todo o mundo, foi registrada unicamente na trilha do PESC. Ela tem um trajeto de 1,4 km, com tempo estimado de percurso para a observação de cogumelos de 3 horas. 

A trilha apresenta alguns trechos com aclive e declive, com intensidade de esforço moderado, que é agravado pelas condições do terreno. O trajeto tem diversas passarelas sobre pequenos cursos d’água e áreas brejosas e deve ser atravessada com atenção se estiverem escorregadias. 

A espécie Amanita dulciodora, possivelmente endêmica da região, ocorre nos períodos de verão e já foi observada entre outubro e fevereiro. Ela tem coloração branca e salmão, sendo fácil de ser identificada quando avistada. É do mesmo gênero de um cogumelo famoso mundialmente, o Amanita muscaria, conhecido pela coloração vermelha e pintinhas brancas. Nesta micotrilha também é possível encontrar insetos “zumbis”, cogumelos corais e uma grande diversidade de cogumelos coloridos.

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Fonte: ASCOM – Foto: Divulgação

				
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